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BIFFF 2025 | The Unrighteous

Revitalização urbana, convivência em sociedade e o perigo silencioso do avanço das igrejas em comunidades, são parte de thriller despretensioso de Kim Seon-kuk

The Unrighteous

Em um cenário de bairros residenciais antigos que necessitam de revitalização e o crescimento da fé cristã entre os sul coreanos, The Unrighteous mistura tudo a partir de um horror de paranoia, seitas e teorias de conspiração. Joo-hyun é um jovem filho dedicado que trabalha duro aprendendo para se tornar corretor de imóveis, enquanto quita as prestações do apartamento em que vive com a mãe idosa e a sobrinha pequena, deixada pelos pais. A vizinha bastante desagradável torna-se um constante desafio com barulhos e outros incômodos provocados por sua total falta de noção para conviver em comunidade, a vilã contemporânea perfeita. Pensando estar colocando a mulher em uma armadilha, em uma espécie de vingança, o rapaz deposita o folheto de uma igreja em sua caixa de correio, no entanto, as consequências se espalham para todos os lados.


Na primeira vez que a vizinha leva seu pastor a uma reunião de condomínio, há grande resistência dos moradores contra a religião. Logo, ela arruma maneiras de manipular todos e os converter para sua fé. A associação mais clara que Kim Seon-kuk cria aqui é com as igrejas evangélicas, em seus cultos barulhentos, sempre buscando trazer novos adeptos para seus círculos. The Unrighteous se dedica a retratar a igreja como uma seita muito antes de tudo degringolar, em encontros bastante desequilibrados de seus fiéis, com gritos e promessas mentirosas. A vizinha vai se tornando cada vez mais manipuladora, vendendo uma imagem de paz após a conversão, a falsa santa, o lobo em pele de cordeiro.


Enquanto isso, há o paralelo urbano, em que a região que Joo-hyun vive luta pela aprovação da revitalização, para valorizar os imóveis, atrair novos moradores e tornar a área mais ativa comercialmente. Tudo lá ainda parece remoto, por isso, a sensação de isolamento do grupo que mora no mesmo prédio dá uma noção de desamparo perante a ameaça religiosa que os cerca. A seita consegue pegar um a um e é como se não houvesse escapatória, principalmente quando a nova amiga do protagonista, que investiga a organização há anos, alerta para o alcance da religião em todo o país. Difícil não associar tudo isso ao crescimento do cristianismo na Coreia do Sul, principalmente quando o espaço sagrado em que a seita reza é identificado no filme como um antigo templo budista. 


The Unrighteous separa sua narrativa em capítulos de acordo com a etapa de conversão da religião. Conforme a mãe de Joo-hyun vai caindo cada vez mais nas garras da seita, os blocos avançam, crescendo a sensação de que chegará um ponto sem retorno. A personagem que investiga a operação intensifica uma noção de conspiração, sempre alimentando a história com novas informações. Sua existência na trama é como uma carta na manga, resolvendo questões magicamente, tapando buracos que poderiam ficar sem explicação, ela é um Deus ex machina constante e em menor proporção, um recurso um tanto preguiçoso do roteiro que facilita o desenvolvimento da obra. 


Em tempos de crescimento da igreja evangélica, e de conservadorismo religioso enfiado no governo em vários pontos do mundo, observar a vizinha nessa espiral da seita, levando todo um grupo junto, é angustiante, mas de uma forma divertida. Os elementos que podem ser associados em The Unrighteous com o cenário social, operam dentro dessa lógica de um thriller mais despreocupado com seu vínculo com a realidade, então a conspiração soa ridiculamente absurda ao mesmo tempo que tem sua ponte com o mundo real. 


Possivelmente o comentário que soa mais abaixo de todo o restante da trama, a convivência em vizinhança, é elaborada de forma muito interessante em The Unrighteous. Do egoísmo da vizinha que desencadeia todos os acontecimentos, até a celebração pela revitalização do bairro depois de quase todo mundo morrer em um ritual de seita. Joo-hyun, que é um rapaz tímido e muito gentil com todos, é obrigado a conviver em sociedade com pessoas totalmente sem noção. Provavelmente o que Kim Seon-kuk faz melhor em seu filme é esse captar dos elementos comuns, transformando em absurdos que são comicamente e assustadoramente reais, do viver em um prédio com gente maluca, até o crescimento das comunidades religiosas barulhentas, mas silenciosamente perigosas, ao nosso redor. 




 

Nota da crítica:

3/5


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