Crítica - Drop: Ameaça Anônima (2025)
- Raissa Ferreira
- 11 de abr.
- 3 min de leitura
Christopher Landon expande a tela do celular para o cinema e brinca com os horrores das ameaças masculinas e digitais
Quando se é uma mulher heterossexual solteira procurando parceiros na internet, o mundo pode ser um lugar bem perigoso. Na verdade, o universo online em geral é bastante ameaçador e quanto mais os anos passam, celulares se tornam armas e a forma como pessoas conseguem se esconder em redes sociais tornou indivíduos comuns em potenciais agressores. Drop: Ameaça Anônima tem um interesse bastante particular por essa atmosfera, passeando com a câmera pelos ambientes os explorando como redes em que o perigo se esconde, e a escolha de lentes é fundamental nesse ponto. Até por isso os personagens, por menores que sejam, são vistos com alguma relevância nas cenas, com rostos e olhares bem destacados, para passar para a pessoa espectadora a mesma sensação de Violet (Meghann Fahy), a de estar cercada por suspeitos. Christopher Landon amarra de forma inteligente isso à trama de abuso, sem banalizar o trauma da protagonista ou a usar como uma muleta rasa.
Se uma mulher sofreu violência no passado, todos os homens ao redor geram algum alerta. E aqui está uma das grandes sacadas de Landon, que abre seu filme com uma sequência violenta em que Violet é agredida por um homem. A expectativa gerada ao redor dessas cenas é que essa é uma antecipação do confronto que está por vir no longa e a revelação do rosto do agressor (que é dada visualmente de fato como uma descoberta), branco, com cabelos e barba castanhos, reforça essa ideia. Quando Violet chega no restaurante para seu primeiro encontro, diversos homens parecidos começam a aparecer, inclusive seu interesse romântico, assim, essa imagem genérica torna-se uma mistura de rostos, de forma que quem assiste é instigado a procurar o vilão das primeiras cenas, inutilmente. A pista falsa reforça um comentário ácido da sátira, é só imaginar um aplicativo de relacionamentos ou uma rede social qualquer, quantos homens ali são extremamente parecidos?
Em outro ponto, ainda mais relevante, o suspense divertido que Landon propõe é uma imersão no digital. Violet é ameaçada por um celular (mais do que por meio de um) e toda e qualquer reação que ela pode ter só tem efeito quando aprovada pelo dispositivo. Assim, a pessoa espectadora é transportada para o que existe naquela pequena tela, com recursos que projetam ao redor da protagonista as mensagens enviadas. As lentes e os elementos inseridos em tela ampliam o espaço digital e o trazem para o campo físico. Essa construção, que já começa no momento em que Violet sai do elevador e entra no restaurante, vai amplificando o suspense ao lidar com cada pessoa, mesmo as de costas ou as mais distantes nas mesas, em possíveis ameaças, já que todos usam celulares, a arma fundamental de Drop.
É curioso pensar que quando as primeiras mensagens chegam, são facilmente descartadas como algo real, ainda que gerem algum desconforto na protagonista. No entanto, é a própria tela do celular e a vigilância digital comum da paranoia contemporânea que atesta a veracidade das ameaças. O confronto direto e físico é deixado só para os finalmentes, fazendo com que todo o resto seja na base da relação pessoal de crença e conexão com o que as imagens do celular transmitem. Em tempos de inteligência artificial e outros recursos, é muito louco pensar em matar alguém valendo-se apenas de uma chantagem anônima. Por isso o filme mantém sua tensão eficaz ao tornar tão impossível a movimentação de Violet para longe dessa dinâmica, como se sair do restaurante fosse desligar a internet e atravessar de volta para o mundo real.
Para quem já conhece outros trabalhos do cineasta, como A Morte Te Dá Parabéns e Freaky, é fácil perceber que há uma assinatura autoral que passa do simples fato de uma protagonista loira estar em apuros. Não só em como se diverte manipulando o suspense e não tem medo de ser bem canastrão em alguns momentos, mas também por como Landon conduz sua equipe, fazendo fotografia e montagem soarem bastante similares em todos os seus trabalhos.
Drop: Ameaça Anônima une a insegurança da internet com a de ser uma mulher com experiências traumáticas e executa uma atmosfera angustiante em que todos os homens são possíveis ameaças, fugindo da abordagem mais óbvia dos temas, e aproveitando a criatividade de seu diretor que transforma tudo isso em horror e sátira contemporânea.
Nota da crítica:
3.5/5
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