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Crítica - A Menina e o Dragão (Dragonkeeper) 2024

Com dupla diversa na direção que une diferentes países de origem, a animação pouco aproveita para explorar novas ideias e referências, estacionando no resultado genérico

A Menina e o Dragão (Dragonkeeper) 2024

O fato que mais atraiu minha atenção para A Menina e o Dragão certamente foi a combinação em sua produção, Jian-Ping Li e Salvador Simó dividem a direção dessa animação coproduzida entre China e Espanha. Ao que parece, originalmente o longa contaria com uma estética mais atrelada aos dragões chineses e a cultura imperial, com as vozes de atores espanhois, o que me pareceu uma mistura interessante que abriria possibilidades de explorar referências de ambos lugares, tanto em traços quanto em narrativa. Mas, como animações geralmente chegam apenas dubladas até os cinemas, aqui no Brasil devemos contar apenas com as vozes em português e em meu caso, tive a chance de assistir apenas em inglês, e se havia algo que a parte da Espanha tinha para agregar nessa união, me parece que morreu quando a dublagem foi trocada. Visualmente, o filme não é nem um pouco original, a animação é travada, pouco fluida, e parece uma tentativa bem inferior de replicar produções norte-americanas. Isoladamente isso poderia ser compensado caso a história sustentasse as fraquezas dos traços que parecem um 3D qualquer sem personalidade, mas, infelizmente, não é o caso. Imagine qualquer filme que você já viu de fantasia e você terá o resultado final que precisou de pelo menos cinco roteiristas, incluindo a escritora do livro que deu origem ao filme. A menina escolhida é inserida em um contexto pobre, como serva, e precisa descobrir seus poderes, aprender a os usar, aceitar usá-los e enfim, salvar o dia. A estrutura básica ainda poderia ser ajudada pelos desdobramentos internos, é claro, mas talvez os criadores subestimem o público infantil e acreditem que qualquer coisa já basta a eles, pouco se esforçando para enriquecer essa jornada ou trazer qualquer apelo emocional que seja nas relações entre personagens.


Por meio do “chi”, um elemento da cultura chinesa, Ping é capaz de movimentar as coisas, se defender, ajudar os dragões e afins. Poderia ser facilmente relacionado à força de Star Wars ou qualquer coisa do tipo, não pelo conceito, mas por como o filme o utiliza. E falando na estrutura de um dos clássicos do cinema, há também um velho senhor mais experiente no uso do chi que auxilia a menina e serve como alívio cômico, junto a um ratinho, seu companheiro que pouco agrega. A ideia de que ela é uma serva e sempre será somente isso é fundamentalmente a mensagem que a animação tenta usar como superação, Ping é a escolhida, é mais que o que sua classe determina e pode lutar contra seu destino, mudar as coisas, usar seu poder. Nada de novo por aqui também, mas é o como A Menina e o Dragão conta sua história o mais relevante do que sua ideia inicial batida. Uma coisa é gerar um roteiro genérico e tentar o aplicar de formas mais criativas, explorando qualquer apelo que possa existir, outra é pegar isso e apresentar de forma mais genérica ainda. Para um filme infantil que utiliza a relação de uma menina com animais, fantásticos ou não, o emocional é muito fraco, falta coração na obra, motivações autênticas, e alguma vida. Na primeira parte, quando Ping encontra o casal de dragões, há alguma doçura na troca entre ela e a criatura mágica que logo viria a morrer, estabelece-se uma dinâmica familiar naquele momento, as figuras materna e paterna encontram a menina órfã com quem podem se comunicar apenas pelos sonhos. Porém, isso logo é deixado para alternativas mais rasas, Danzi, o dragão pai que sobrevive, começa a falar com Ping por meio do pensamento, evitando uma animação de sua boca, mas também tornando os diálogos pouco agregados ao restante, o que pode também ser um problema da dublagem em inglês. 


A figura primordial do dragão chinês é muito mais algo milenar e imponente do que afetuoso, mesmo assim, o Mushu de Mulan era capaz de uma complexidade de humor e emoções que A Menina e o Dragão nunca consegue atingir, se é que tentou. A relação de Ping com o bebê dragão só existe realmente ao final, quando ele é retratado quase como um filhote de cachorro ao seu redor, mesmo assim, é o mais próximo de um vínculo afetivo que o filme consegue estabelecer entre suas criaturas. Uma das ligações mais óbvias que podemos pensar é também com Como Treinar o seu Dragão, que solidificou a imagem de dragões, dessa vez vikings, como algo próximo a gatinhos fofinhos. Mas é impossível comparar a obra de Jian-Ping Li e Salvador Simó com os trabalhos de estúdios enormes e de fato, não é a fraqueza de seu visual o maior problema e sim como sua história é tão genérica, rasa e sem vontade de ser algo melhor que isso. Mesmo que Ping seja destinada a algo grandioso, como guardiã dos dragões, a mistura básica de mitologias, referências e jornada simplista não leva seus feitos muito longe e se torna um produto qualquer facilmente esquecível. 


Filme assistido a convite de Vertigo Releasing e Strike Media A Menina e o Dragão chega aos cinemas brasileiros no dia 19 de Setembro


 

Nota da crítica:

2/5


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