top of page
Foto do escritorRaissa Ferreira

Crítica - MaXXXine (2024)

Expondo muitas referências sem uma construção sólida a partir delas, Ti West realiza desfecho morno para a trilogia de uma protagonista que perde a força


Maxxxine Crítica

Desde X a intenção de Ti West ficou bem estabelecida, com um cinema praticado a partir de muitas referências e homenagens, mas o diretor talvez só tenha construído realmente algo consistente a partir disso em Pearl, em que o mundo technicolor protagonizado por Mia Goth era capaz de ser mais que uma mera exibição e se integrar ao universo e personalidade da personagem insana. Agora, em MaXXXine, o diretor se volta ao cinema dos anos 80, principalmente ao de Hollywood, pincelando elementos que vão do assassino desconhecido do Giallo às telas divididas de Brian De Palma. Se nessa trilogia antes era o fascínio pela magia da sétima arte que movia o autor a forjar suas encenações e montar suas obras, no desfecho é justamente a desconstrução disso, a sátira que busca remover as máscaras e expor os artefatos ilusionistas. Por isso, quando observa com tanta admiração o cenário de Psicose, segue para abrir a porta daquela casa em que grande parte dos espectadores já são capazes de construir visualmente a imagem da entrada em poucos segundos, porém, o que Maxine revela é uma estrutura falsa, de madeiras empilhadas, o que segura aquele truque de mágica e expõe que nada em hollywood é real, são apenas sonhos fabricados. Essa proposta é interessante, provavelmente o maior atrativo encontrado no longa, e certamente o que mais o puxa para baixo é o fato de que sua protagonista que antes era tão forte, descontrolada e capaz de tomar suas próprias ações, agora parece fraca, mais uma vítima da indústria que é conduzida, jogada de um lado para o outro sem impor a mesma presença que vende. É fato que o contexto é propício para essa castração de Maxine, afinal esse lugar é um moedor de mulheres, mas quanto mais o filme avança, mais parece que seu brilho se perde sem alguma conversa que realmente corrobore a intenção.


Um dos acenos iniciais que o longa dá, que parecem dizer que a Mia Goth dos outros capítulos está de volta, é quando um homem a ataca e ela não apenas o humilha com a arma como objeto fálico e o obriga a tirar as roupas, como “castra” de forma violenta seu corpo. No entanto, essa potência da personagem vai sendo diluída como a própria alusão a uma crítica ao conservadorismo que briga com a sexualidade e o erotismo na arte. Para uma obra com uma estrela pornô e que contém uma série de protestos puritanos contra hollywood, MaXXXine é muito limpo e certinho, foge das cenas de sexo e não explora a nudez, chega a ser irônico qualquer alusão ao cinema de De Palma que mal tem coragem de mostrar a cena em que a atriz tira a blusa para exibir os seios ao casting. Mais do que isso, a protagonista só é amiga de um homem que, segundo o mesmo, é o único que não tenta transar com ela. Sua única presença em uma gravação pornográfica só vai até o ponto em que ela se arruma no camarim e a única nudez vem de uma lembrança de outro filme. Maxine perde a sexualidade que até mesmo Pearl tinha em alguma medida, quase se torna a velha senhora de X, mas não carrega o mesmo desejo. Por vezes é como se ela estivesse lobotomizada, sendo conduzida de uma ação até outra sem obstinação, aquela tão presente nas protagonistas da trilogia, o que me leva a crer que o verdadeiro vilão aqui é o próprio diretor. 


Assim, todas as referências não parecem passar de uma sátira que não constrói, só ri com as ideias e as exibe como uma prateleira. Até a frase inicial de Bette Davis dá a entender que algo diferente seria explorado por meio da carreira de Maxine em hollywood, mas acaba como mais uma inspiração largada. A atriz loira não é engolida pela indústria, mas pelo próprio filme que protagoniza, é castrada e se torna, ao fim, apenas um modelo inocente, e até suas atitudes um pouco violentas soam extremamente controladas e sem emoção, às vezes nem são finalizadas por ela mesma, necessitando apoio para se salvar. Parece que MaXXXine precisava muito ser apenas um desfecho de sua trilogia, e de fato, o é, se concentrando fortemente em construir esse caminho de sucesso para sua personagem e fechando o que fora levantado antes, mas certamente a velha senhora Pearl ficaria decepcionada se visse todo potencial que essa jovem tinha para aproveitar a vida e sua carreira, mas perdeu sendo só mais um produto pasteurizado. 


Filme assistido a convite da Universal Pictures e CDN Comunicação

MaXXXine chega aos cinemas brasileiros no dia 11 de Julho de 2024

 

Nota da crítica:

2,5/5


autor

Comments


bottom of page