Documentário de Claudia Priscilla se dedica a mostrar as diferentes formas de depressão pós-parto e os problemas do estereótipo das mães perfeitas
Para colocar em foco um tema que afeta tantas mulheres, Claudia Priscilla faz um documentário simples e formal, centrando sua narrativa nas quatro mães que são seus objetos de estudo de forma linear, ouvindo suas histórias do começo, a descoberta da gravidez, até suas considerações finais de superação. Alternando entre seus depoimentos, a diretora se preocupa em dar espaço a cada uma delas de sua própria forma, as cercando com suas moradas e olhando para suas interações com seus filhos, mas sempre tomando um discurso mais otimista e positivo, até nos momentos mais difíceis. O longa segue nessa linha básica com único objetivo de passar por essas entrevistas e compreender que cada mãe ali tem uma história diferente com a depressão pós-parto, com suas expectativas para a maternidade e suas formas de encarar e superar as dificuldades, o único ponto em comum entre elas é que, acima de todas as dificuldade, todas demonstram grande afeto pelos filhos. Assim, a escolha de Claudia não é mostrar um lado duro da maternidade, mas sim uma leveza, talvez como uma forma de confortar quem passa, já passou ou pode passar pelo mesmo processo.
Dessa forma, Eu Deveria Estar Feliz não é um filme muito inspirado ou com uma grande marca autoral, mas quase uma peça informativa feita para desmistificar que só há uma depressão, a triste, paralisante e isoladora. Ainda que todas as mulheres falem muito sobre uma romantização da maternidade tanto imposta socialmente quanto que elas mesmas projetaram em suas vidas, não há como deixar de observar que o documentário se pauta tanto nessa superação pelo afeto com cenas felizes na natureza que acaba caindo nesse mesmo lugar comum. É possível compreender por meio das quatro histórias como cada mulher pode se sentir diferente depois de parir e todos esses sentimentos convergirem na depressão, porém o clima de “o amor vence tudo” não deixa nunca a narrativa pender para algo mais melancólico, como se até para sustentar o filme as mulheres precisassem expor seu melhor lado, suas forças para manter tudo em pé.
De forma a lidar com a individualidade de cada mãe, a diretora busca encenações e momentos de observação que reflitam suas questões narradas. Karla, a atriz, fala sobre como sua depressão pós-parto parecia um filme de terror, assim o documentário pincela um tom mais obscuro em algumas de suas passagens. O mesmo ocorre com a paulista Fernanda, que enfrentou a depressão se aproximando excessivamente do filho, então a diretora aborda esse carinho em planos que sempre encontram a mulher abraçando forte a criança e pelas bolhas de sabão, para refletir esse enclausuramento sentido no passado. Em geral, todas acabam se unindo quando o quesito é a natureza, sempre tão fortemente associada às mulheres e, principalmente, à maternidade. Ainda que essas mães critiquem como a romantização desse estado místico do feminino pode prejudicar os vínculos e as expectativas criadas entre uma mãe e seu recém-nascido, o documentário busca sempre as colocar no mar, no verde, num estado de paz com essa natureza que as cerca.
As mulheres são ouvidas, sem julgamentos, já que o longa só busca realmente essa escuta totalmente focada nelas - os pais das crianças, por exemplo, nem aparecem - importa realmente a visão de cada uma sobre suas jornadas. Mas a condução nunca se deixa cair no que há de ruim ou triste, sempre mantendo seu tom lá em cima, até um pouco careta. Portanto, para seus objetivos de ouvir esses depoimentos e trazer uma consciência de que cada mãe pode se sentir de uma forma e, por meio dessa compreensão, acolher e incentivar que busquem ajuda, o filme funciona, mas sempre nesse lugar muito tranquilo e otimista de que tudo vai ficar bem, sem construir algo marcante.
Filme assistido a convite de Patrícia Rabello Assessoria em Comunicação
Eu Deveria Estar Feliz chega aos cinemas em 07 de setembro e foi exibido no Canal GNT no dia 11 de setembro
Nota da crítica:
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