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Foto do escritorRaissa Ferreira

Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1 (2023) | O destino da ação

Tom Cruise e Christopher McQuarrie retornam com a paixão pela ação em um filme que olha para o passado da franquia e se estabelece como o próprio futuro do gênero



2023 já ficou marcado por seus grandiosos lançamentos no cinema, com a ação lá no topo das melhores estreias, primeiro com o quarto capítulo da franquia John Wick, de Chad Stahelski e agora com o tão aguardado sétimo filme de Ethan Hunt (Tom Cruise). Existem, inclusive, diversas semelhanças entre os dois, mas se John Wick cria um mundo particular fantasioso que acompanha a mitologia de seus personagens, Missão: Impossível sempre esteve presente no mundo de forma mais real e em diversos filmes vemos as pessoas comuns nas ruas olhando chocadas os acontecimentos. Ethan Hunt faz parte do nosso mundo e em Acerto de Contas sua invencibilidade é colocada à mercê do destino como nunca antes. A presença de novatos reforça essa atmosfera do acaso, com a chegada de Grace (Hayley Atwell), e se antes parecia que Hunt era capaz de resolver qualquer coisa de formas mirabolantes com o apoio de sua fiel equipe, agora é como se tudo que pudesse dar errado dará errado e as resoluções se dão com um pouco de sorte, com ajuda do acaso, da natureza e do destino. A lógica que se costura pelas sequências de ação, quase sem respiros, é totalmente imersiva desde os primeiros minutos, e McQuarrie eleva as emoções, manipulando totalmente nossos sentimentos e nos colocando também entregues, sujeitos a tudo que está acontecendo, apenas nos deixando levar por seu show. Trazer para debate a inteligência artificial não poderia ser mais preciso nesse momento, enquanto o mundo, e o cinema, sofre com uma artificialidade cada vez maior, a dupla Cruise/McQuarrie se compromete com uma obra fascinante que celebra tudo de melhor que essa arte pode nos oferecer.


O retorno do passado de Hunt com Gabriel (Esai Morales) e a forte presença das máscaras, um tanto deixadas de lado em alguns filmes da franquia, mostra um aceno para o passado e às origens de Missão: Impossível. Mais uma vez, Acerto de Contas funciona perfeitamente sem seus capítulos anteriores apesar de uma unidade ter sido bem estabelecida desde que McQuarrie assumiu a direção em 2015 com Nação Secreta, mas o sétimo filme finca o pé em mostrar que além de Hunt, Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames) todos podem ser apenas passageiros nessa jornada. As mulheres certamente sempre foram, desde o primeiro longa da série não há uma personagem feminina que dure muito aqui, fato até pontuado em um diálogo neste, e até Rebecca Ferguson não foi suficiente para se estabelecer. Talvez pensem não haver ninguém à altura de Tom Cruise para se manter fixamente em M:I, mas Grace será a peça da vez a tentar o seu lugar ao sol. O fato é que o núcleo de Hunt e sua equipe se define mais ainda como uma família que escolhe lutar unida, não importa o inimigo. O agente se rebelar não é mais novidade, mas seu comprometimento em salvar o mundo é destacado, ele é seu próprio serviço secreto independente, trabalhando sempre para a causa que acredita, do seu próprio lado, mesmo que seja contra seu país, mesmo que seja colocar a vida de outras acima da sua.



McQuarrie coloca os rostos em cena, usando muito o primeiro plano, focando em seus personagens. Primeiro, o recurso revela o uso das máscaras, depois transita em diálogos alternando o destaque entre cada um que faz parte dessa trama como que os expondo, em alguns momentos desfocando personagens ao fundo e em outros usando luzes fortes e ressaltando os olhares vivos e a emoção à flor da pele de cada um. A câmera inclinada, em planos holandeses, muitas vezes retrata uma vilania bem caricata de Gabriel. Assim, a trama até que simples se torna uma obra grandiosa com os usos criativos de fotografia e uma montagem alucinante que coloca a ação em outro patamar, às vezes muito contemporâneo, como nas cenas da boate e às vezes muito clássico, como no trem. É como se Hunt fosse uma força da natureza e ele se integrasse a ela nas sequências finais. O silêncio que se dá quando Tom Cruise pula da montanha é o momento que prendemos o ar e vemos esse personagem que é a própria alma da franquia se entregar completamente ao seu maior objetivo: fazer cinema de verdade.


E, sendo assim, não faltam referências no longa, ao próprio gênero da ação, a uma conversa mais próxima com suas origens com De Palma, mas também ao próprio cinema como um todo. Acerto de Contas quer mostrar a ação de verdade e flerta com essa imprevisibilidade, principalmente pelas constantes escapadas de Grace e tudo que atrapalha Hunt, tornando as resoluções menos garantidas, mas também assume o que a sétima arte realmente é: uma grande mentira. Pode ser que as novas tendências ditem uma busca maior pelo realismo e que a fantasia esteja cada vez mais desacreditada, mas Missão: Impossível pede que você embarque sem amarras e o sétimo filme não tem medo nenhum de suas máscaras, mentiras e ilusões, pelo contrário, se orgulha delas e competentemente faz qualquer um que ama essa arte entrar completamente na dança.


Talvez o futuro das produções seja sombrio com a tecnologia da inteligência artificial ganhando cada vez mais força, mas enquanto tivermos essa dupla em atividade podemos ficar tranquilos, o destino do cinema de ação está em ótimas mãos.


Nota da crítica:

4,5/5


Filme assistido a convite da Atômica e Paramount Pictures

Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1 chega aos cinemas em 12 de Julho.


 



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